Dia 11 de Abril, comemora-se o Dia Internacional de Conscientização sobre a Doença de Parkinson. Leia aqui perguntas e respostas sobre o que é a doença.

Quando consultar seu médico e opções de tratamento que melhoram significativamente a qualidade de vida de nossos pacientes.

O que é a Doença de Parkinson?
Conhecida principalmente pela “tremedeira”, rigidez entre as articulações, lentidão dos movimentos e dificuldade para caminhar, a Doença de Parkinson acomete aproximadamente 10 milhões de pessoas mundo afora. No Brasil, dados não oficiais apontam para aproximadamente 250 mil casos. Por motivos ainda não completamente compreendidos, ocorre uma diminuição intensa da produção de uma substância chamada dopamina por neurônios de determinada região do cérebro. A falta de dopamina, que atua na transmissão de mensagens entre células nervosas, causa tanto anormalidades no controle dos movimentos, como também alterações na percepção de emoções.

Quais são os principais sintomas?
Os principais sintomas são o tremor, a rigidez, a lentificação dos movimentos e a diminuição do equilíbrio para caminhar. Esses chamados sintomas motores da doença se iniciam, na verdade, quando o “estoque” de dopamina já alcançou níveis bem baixos no cérebro. Labilidade emocional (choro imotivado), dificuldade para sentir cheiro e insônia, assim como alteração do hábito intestinal, podem aparecer mesmo antes dos sintomas motores. A doença acomete principalmente adultos após os 50 anos de idade, embora possa ocorrer também em pessoas um pouco mais jovens.

Quando procurar um médico?
Os sintomas da Doença de Parkinson são bem característicos, sendo que um médico especialista poderá identificar o problema. Vale lembrar que até 30% dos pacientes não apresentam necessariamente o tremor. Portanto, em caso de lentificação dos movimentos, rigidez nas articulações e dificuldade para caminhar, vale a pena consultar um especialista mesmo na ausência do característico tremor. O diagnóstico é basicamente clínico, ou seja, feito no consultório. Alguns tipos de exames de imagem, também podem ser úteis neste processo e seu médico saberá quando solicitá-los. A presença de casos de Doença de Parkinson na família pode indicar uma maior chance de o indivíduo desenvolver a doença, entretanto não é determinante.

Quais são as opções de tratamento atualmente?
Atualmente, o tratamento medicamentoso ainda é a primeira opção, além de reabilitação e suporte psicológico. Esses medicamentos visam repor parcialmente a dopamina que está faltando. Portanto, o tratamento não é curativo, porém alivia substancialmente os sintomas e diminui complicações da doença. A melhora ocorre quase que imediatamente após início da medicação. Porém, ainda não existem medicamentos que curem completamente a doença ou que impeçam a sua progressão.

Após alguns anos de boa resposta ao tratamento, poderá se iniciar uma fase em que os remédios passam a trazer menos benefícios e possivelmente mais efeitos colaterais. Nestes casos, existem técnicas de tratamento cirúrgico, assim como formas alternativas de administração de medicações, que melhoram a mobilidade e a qualidade de vida dos pacientes.


Como é a cirurgia para a Doença de Parkinson?
A “Estimulação Cerebral Profunda” é o método também conhecido como “DBS” (do inglês, Deep Brain Stimulation). Esta cirurgia vem sendo utilizada há mais de 30 anos e desponta como o principal aliado à terapia medicamentosa no tratamento da Doença de Parkinson. Trata-se de um “marca-passo” conectado a um delicado eletrodo, que, uma vez implantado em regiões do cérebro por método de neurocirurgia estereotáctica, é capaz de reorganizar circuitos neuronais, aliviando significativamente sintomas como o tremor, a rigidez muscular e a lentidão dos movimentos. A avaliação que antecede a cirurgia, assim como o seguimento pós-operatório devem ser realizados por uma equipe especializada, que inclui neurocirurgia e neurologia especializadas, neuropsicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, suporte psicológico e nutricional.

A cirurgia é indolor e pode ser realizada em anestesia local, possibilitando a execução de mapeamento e estimulação cerebral durante o procedimento, ou em anestesia geral para maior conforto dos pacientes. Em resumo, o planejamento cirúrgico é realizado com base em um exame de ressonância magnética do crânio. Modernos programas de computador permitem a identificação visual das estruturas cerebrais e simulação da trajetória e posição final do eletrodo no cérebro. A estrutura cerebral “alvo” para estimulação varia conforme as condições e sintomas predominantes de cada paciente. Após inserido, o eletrodo é conectado a um pequeno marca-passo sob a pele da região torácica ou abdominal. Atualmente existe enorme variedade de tipos de eletrodos e geradores (ex. recarregáveis, não-recarregáveis) que devem ser empregados conforme condições clínicas e a patologia em questão, porém levando em consideração o estilo de vida e as preferências de cada paciente.

O que acontece após a cirurgia?
Após a cirurgia, o paciente deverá continuar o seguimento clínico com equipe multidisciplinar e acompanhado pelo seu neurologista e neurocirurgião para pequenos ajustes das medicações e dos parâmetros de estimulação. Esse seguimento pode ser realizado normalmente em consultório médico.

Muitas vezes, o tratamento cirúrgico possibilita uma redução da dosagem das medicações, o que também contribui para melhora clínica. Estudos científicos mostram que o tratamento cirúrgico leva a uma melhora significativa dos sintomas e da qualidade de vida dos pacientes. Geralmente, após a cirurgia, o paciente passa mais horas do seu dia com boa mobilidade e períodos mais curtos de rigidez e lentidão dos movimentos.[1,2] Esse método tem sido também empregado com sucesso no tratamento neurocirúrgico de outras doenças neuropsiquiátricas, como Tremor Essencial, Distonia, Epilepsia e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). No Brasil, esta técnica está restrita a poucos centros, porém, em Ribeirão Preto, contamos com uma equipe especializada e com vasta experiência no tratamento clínico e cirúrgico destas enfermidades.

Pesquisa em Doença de Parkinson
Importante investimento em pesquisa vem sendo realizado com intuito de desenvolver novas medicações, métodos de diagnóstico e tratamentos ainda mais eficazes, que minimizem o surgimento de efeitos adversos e melhorem a qualidade de vida de nossos pacientes.

Fotografia de alta magnificação (20x) ilustrando conexões entre células nervosas transplantadas (Furlanetti et al 2015)
A chamada neurorestauração com terapia celular tem como objetivo substituir os neurônios afetados pela doença por meio de transplante de células tronco. Em laboratório, células tronco são capazes de maturar-se e integrar-se ao cérebro parkinsoniano a ponto de reverter sintomas da doença. Em projeto de pesquisa que tive a oportunidade de realizar na Universidade de Freiburg, na Alemanha, pudemos mostrar que a estimulação cerebral profunda associada à terapia com células tronco potencializa o efeito restaurador do transplante, em modelo animal de Doença de Parkinson.[3] Estes resultados ainda não têm aplicação clínica no tratamento de pacientes, porém nos ajudam a entender melhor a doença e abrem perspectivas para o futuro.

A Doença de Parkinson não é fatal per se, entretanto, se não diagnosticada e tratada, fragiliza, predispõe o indivíduo a outras doenças e restringe a capacidade funcional para as atividades do cotidiano. Importante ressaltar que um especialista sempre deverá ser consultado. Avaliação clínica pormenorizada e seguimento são de extrema importância, pois outras doenças degenerativas do sistema nervoso central podem assemelhar-se inicialmente à Doença de Parkinson, mas, no entanto, apresentam curso mais grave. Por fim, considerando-se a gama de medicações e alternativas neurocirúrgicas disponíveis atualmente, a individualização do tratamento de acordo com as características de cada paciente possibilita bom controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida mesmo em estágios tardios da doença.

Referências:
1 Deuschl G, Schade-Brittinger C, Krack P, Volkmann J, Schäfer H, Bötzel K, et al. A randomized trial of deep-brain stimulation for Parkinson’s disease. N Engl J Med. 2006 Aug;355(9):896–908.
2 Schuepbach WMM, Rau J, Knudsen K, Volkmann J, Krack P, Timmermann L, et al. Neurostimulation for Parkinson’s disease with early motor complications. N Engl J Med. 2013 Feb;368(7):610–22.
3 Furlanetti LL, Cordeiro JG, Cordeiro KK, García JA, Winkler C, Lepski GA, et al. Continuous High-Frequency Stimulation of the Subthalamic Nucleus Improves Cell Survival and Functional Recovery Following Dopaminergic Cell Transplantation in Rodents. Neurorehabil Neural Repair. 2015 Apr DOI: 10.1177/1545968315581419

Por: Luciano Furlanetti, MD, PhD, FEBNS
CRM 121.022 | Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) | Membro Titular da Sociedade Alemã de Neurocirurgia (ÄK-DGNC) | Membro Titular da Sociedade Britânica de Neurocirurgia (SBNS)| Doutorado e Pós-Doutorado em Neurocirurgia Funcional – Alemanha/UK | Clinical Fellowship Neurocirurgia Funcional – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido | Clinical Fellowship Neuro-oncologia – King’s College Hospital, Londres, Reino Unido

Publicado originalmente no site: http://neurofurlanetti.com/