Dormir bem é uma das recomendações para quem quer ter uma vida saudável, isso porque o sono é capaz não apenas de restabelecer o corpo e a mente após um período intenso de atividades, mas também contribui para a melhora do metabolismo, para manter o peso sob controle, para o fortalecimento do sistema imunológico, para prevenir doenças e ainda para que haja a regulação emocional e a sensação de bem-estar.
Nesse período de inatividade, deitado sobre o colchão, ocorre um processo que envolve complexos mecanismos fisiológicos em diferentes regiões do sistema nervoso central. Enquanto achamos que apenas descansamos, muitas atividades acontecem em nosso organismo.
Os estágios do sono
O sono humano é constituído por duas fases distintas: o chamado sono não-REM, que é mais lento, e o sono REM, que tem atividade cerebral mais rápida e é quando acontecem movimentos rápidos dos olhos (do inglês: Rapid Eye Movements, ou REM).
A noite de descanso começa com o sono não-REM, composto por três estágios diferentes:
N1 – transição da vigília para o sono mais profundo, porém, ainda um sono leve
N2 – desconexão total do cérebro com os estímulos do mundo real
N3 – sono profundo, com descanso da atividade cerebral
Eis, então, que chega a vez do sono REM. Nessa fase, há intensa atividade cerebral e movimentos oculares rápidos. É quando acontecem os sonhos e também a consolidação da memória.
Em uma noite completa de sono, um adulto apresenta de quatro a seis ciclos, contendo tanto estágios do sono não-REM como o sono REM. Cada ciclo pode durar uma média de 90 minutos. Evitar ficar acordando várias vezes é importante para que todo o processo ocorra e a pessoa levante restabelecida para começar um novo dia.
O que é a paralisia do sono
A paralisia do sono (PS) ocorre quando a atonia ou falta de força do sono REM continua ao despertar, sem outras características clínicas de narcolepsia, que é um distúrbio crônico do sono que causa sonolência diurna em excesso e também podem ocorrer perda súbita do tônus muscular e alucinações.
A PS é uma condição que pode ocorrer com qualquer pessoa, em qualquer idade.
Uma revisão sistemática de mais de 30 estudos estimou que o problema afeta 7,6% da população geral, 28,3% dos estudantes e 31,9% dos pacientes psiquiátricos. Eles tiveram pelo menos um episódio de PS na vida.
Episódios isolados de PS são caracterizados por atonia muscular, com movimentos respiratórios e oculares preservados, no início ou final do sono, normalmente breves e que desaparecem espontaneamente ou mediante estímulo externo. Durante esta paralisia consciente, a maioria dos indivíduos tem sonhos vividos, multissensoriais e, muitas vezes, com conotação negativa, tornando a PS uma experiência muito desagradável.
Quais são os principais sintomas:
Os principais sintomas relacionados a PS são a dificuldade de mover o corpo, apesar de estar supostamente acordado, sensações de angústia, falta de ar, pressão no peito e medo são relatados por 60% dos casos. Contudo, as alucinações auditivas como ouvir vozes e sons são geralmente o sintoma mais perturbador. Estas características são comuns (88,3%), mas não essenciais para o diagnóstico.
Um estudo conduzido pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, avaliou a prevalência de paralisia do sono e alucinações em 189 estudantes atletas. Os resultados mostraram que eles raramente (18%) ou frequentemente (7%) vivenciam essa experiência. Os pesquisadores observaram ainda que essas duas indicações estavam associadas a um maior grau de depressão em comparação com aqueles que relataram nunca ter tido o quadro.
Causas da paralisia do sono
Segundo especialistas em sono, a condição da narcolepsia pode ser um agente indutor da PS. Os episódios também estão associados a hipertensão, distúrbios convulsivos, depressão e estresse. Nos casos relacionados a doenças psicológicas ou psiquiátricas, a revisão sistemática indica que o quadro tem relação com fenômenos de dissociação, crise de pânico e estresse pós-traumático. Ansiedade também é um fator que predispõe à ocorrência de paralisia do sono.
Qual é a sensação da Paralisia do Sono?
Normalmente, a PS dura alguns segundos, mas, para quem teve a experiência, parece uma eternidade. É uma sensação desesperadora, segundo relatos de pessoas com PS. Essa sensação ocorre porque a pessoa está consciente, até consegue mover os olhos, mas não mexe nenhuma outra parte do corpo.
Caso a pessoa queira sair da paralisia imediatamente, a recomendação é mexer os olhos rapidamente e com força. Uma pessoa que observa outra nesse estado pode tocá-la, despertando-a, o que faz a atividade muscular retornar.
A paralisia do sono tem tratamento?
Uma vez que a pessoa está consciente quando a paralisia do sono ocorre, o próprio relato dela serve como diagnóstico. O quadro pode ser um indicativo de doença psiquiátrica, mas, se não houver enfermidades associadas, não há risco à saúde como um todo.
Dependendo do caso, o tratamento inclui cuidar das doenças associadas ou tomar um medicamento que diminui a fase REM do sono, geralmente, antidepressivos bloqueiam essa fase do sono. Se os episódios forem frequentes, é aconselhável procurar um médico especialista, que irá indicar o tratamento adequado. O mais importante é ter boas noites de sono!
Dr. Ricardo Santos de Oliveira (CRM 81527)
Neurocirurgião
Doutor / Pós-doutor FMRP-USP
Livre-Docente FMRP-USP
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN)
Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica (SBNPed)
@dr.ricardodeoliveira
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publicado originalmente: aqui