A neurocirurgia é a área da medicina especializada no tratamento clínico e cirúrgico das doenças do sistema nervoso central (cabeça e coluna), e também do sistema nervoso periférico (nervos dos braços e pernas).
A seguir, faremos um breve resumo sobre as áreas de atuação de cada uma das subespecialidades da neurocirurgia. Saiba quando procurar um neurocirurgião.
Neurocirurgia vascular
Essa é a especialidade da neurocirurgia que trata dos chamados aneurismas cerebrais, malformações arteriovenosas, cavernomas do sistema nervoso entre outras patologias cérebro-vasculares. Muitas vezes, essas doenças se manifestam clinicamente com sintomas de um derrame cerebral (tecnicamente chamado de acidente vascular cerebral). Os sintomas podem ser dor de cabeça de forte intensidade, náuseas, vômitos, confusão mental, sonolência, perda de força, dificuldade para falar ou caminhar, ou até crise convulsiva. Nesta situação, faz-se necessário o tratamento especializado de urgência, para diagnóstico e tratamento. A forma de tratamento depende diretamente do diagnostico, podendo ser clínico, cirúrgico ou por métodos de radiologia intervencionista.
Neurocirurgia oncológica e da base do crânio
A oncologia neurocirúrgica trata dos tumores do sistema nervoso, que incluem os tumores intracranianos, cerebrais e medulares. Tumores do sistema nervoso podem aparecer em pacientes de todas as idades, e na maioria das vezes, um procedimento cirúrgico se faz necessário. Os objetivos principais de um procedimento cirúrgico são: 1) para remover o tumor 2) para fazer o diagnostico exato do tipo de tumor (exame histopatológico) 3) descomprimir estruturas nervosas que estejam sendo prejudicadas pelo tumor, 4) para o planejamento do tratamento oncológico, caso necessário. Atualmente, dispomos de técnicas cirúrgicas bastante avançadas, tornando estes procedimentos mais seguros para os pacientes.
Neurocirurgia de Urgência e Emergência
Esta área da neurocirurgia trata principalmente dos traumatismos crânio-encefálicos e raquimedulares. Acidentes de trânsito, quedas ou até mergulho em água rasa são causas comuns de lesões do sistema nervoso, que podem ser bastante graves. Muitas vezes, faz-se necessária a intervenção cirúrgica de emergência, para tratamento de sangramentos intracranianos decorrentes do trauma ou estabilização da coluna vertebral, no caso de uma fratura instável ou compressão nervosa.
Além de acidentes, outras situações comuns que podem necessitar de tratamento neurocirúrgico de emergência são os sangramentos intracranianos espontâneos, seja por conta de um derrame cerebral (acidente vascular cerebral) ou, eventualmente em decorrência de um tumor.
Neurocirurgia Pediátrica
Se a sua criança tem um problema cirúrgico comprometendo o sistema nervoso (cérebro ou medula espinhal), o neurocirurgião pediátrico é o profissional mais capacitado para tratá-lo.
As enfermidades neurocirúrgicas vistas pelos neurocirurgião pediátrico são diferentes daquelas comumente atendidas pelo neurocirurgião geral.
O treinamento específico na área e o conhecimento das doenças pediátricas são fatores fundamentais para o sucesso do tratamento, além de um relacionamento adequado com os familiares.
Crianças e adolescentes jamais devem ser tratados como “adultos pequenos”, pois apresentam particularidades e cuidados específicos. Problemas neurocirúrgicos que podem ocorrer na faixa etária pediátrica são a hidrocefalia, a malformação de Chiari, tumores cerebrais, as craniossinostoses e os defeitos de fechamento da coluna (como a mielomeningocele).
Tratamento Neurocirúrgico da dor Crônica
E se tratando do manejo da dor crônica, técnicas para bloqueios e injeção de medicações guiados por imagem podem ser empregadas quando necessário.
A forma mais comum de dor crônica nos dias de hoje é a dor lombar. A grande maioria dos casos podem ser resolvidos com tratamento medicamentoso, mudanças de hábito de vida, perda de peso e reabilitação. No entanto, muitas vezes se faz necessário o uso de métodos minimamente invasivos para alívio da dor. Os chamados bloqueios (ex. radiculares, facetários ou de nervos periféricos) podem ser utilizados para diagnóstico ou tratamento em casos específicos. Esses procedimentos visam o alívio da dor e são realizados em ambiente de centro cirúrgico, com técnica asséptica e via de regra, guiados por imagem (ex. raio-x, ultrassom ou tomografia computadorizada). A mesma técnica pode ser utilizada no tratamento da dor crônica da coluna cervical e torácica.
A estimulação medular também pode ser empregada no tratamento da dor nos membros inferiores relacionada à doença arterial obstrutiva crônica, dor lombar crônica, dor pós cirurgia de hérnia de disco e dor inguinal.
Neurocirurgia de Epilepsia
A epilepsia é definida como uma atividade anormal de um grupo de neurônios que pode se manifestar genericamente como uma convulsão ou, eventualmente, crise de ausência. A epilepsia afeta aproximadamente 1% da população brasileira, com estimativa de 60 a 100 milhões de pessoas acometidas no mundo. Existem inúmeras causas e tipos de epilepsia e sabe-se que 30% destes pacientes não apresentam bom controle das crises epilépticas com o tratamento medicamentoso. Em caso de falha do controle de crises com duas ou mais medicações e ocorrência de uma ou mais crises por mês por um período de mais de 18 meses, a epilepsia é classificada como de difícil controle.
Muitos destes pacientes podem se beneficiar de tratamento cirúrgico, porém uma avaliação ampla e pormenorizada de cada caso, por equipe multidisciplinar especializada no manejo da epilepsia, faz-se obrigatória para avaliar o real benefício e indicação precisa do procedimento.
Tratamento cirúrgico dos distúrbios do movimento
A estimulação cerebral profunda (ECP), também chamada de DBS (do inglês, deep brain stimulation), é uma técnica cirúrgica que consiste no implante estereotáctico de eléctrodos em regiões específicas do cérebro com o intuito de reestabelecer a função de circuitos neurais. As principais indicações de estimulação cerebral profunda são a Doença de Parkinson, o Tremor Essencial e a Distonia (em adultos e pediátricos). A cirurgia é indolor e pode ser realizada em anestesia local, possibilitando a execução de mapeamento e estimulação cerebral durante o procedimento, ou em anestesia geral para maior conforto dos pacientes. Atualmente existe enorme variedade de tipos de eletrodos e geradores (ex. recarregáveis, não-recarregáveis) que devem ser empregados conforme condições clínicas e patologia em questão, porém levando em consideração o estilo de vida e preferências de cada paciente. Após a cirurgia, o paciente deverá continuar o seguimento clínico com equipe multidisciplinar e acompanhado pelo seu neurologista e neurocirurgião para ajustes das medicações e dos parâmetros de estimulação. Esse seguimento pode ser realizado normalmente em consultório médico.
Cirurgia da Coluna Vertebral
Dor é um mecanismo de defesa do corpo, no entanto sofrer com dor crônica não é normal. Muitas das causas de dor nas costas estão relacionadas a atividades que fazemos no nosso dia a dia. Má postura em casa e no trabalho, sedentarismo, carregar peso e a própria obesidade são causas comuns de dor nas costas. Muitas vezes a dor aparece em um dia, e no outro já não está mais lá. No entanto, há situações em que a dor persiste e começa a atrapalhar ou impedir a realização das atividades do cotidiano. Quando isso acontece, o problema deve ser investigado por um médico especialista em tratamento da dor e cirurgia de coluna.
Além disso, dor associada a piora neurológica, ou seja, fraqueza muscular, formigamento, incontinência urinária ou fecal, desequilíbrio e febre deve ser imediatamente avaliada por um médico especialista em coluna.
Cirurgia dos Nervos Periféricos
Os chamados nervos periféricos são os responsáveis pela condução da informação motora e sensitiva, conectando o cérebro e a medula espinhal com o restante do corpo. Lesões traumáticas dos nervos periféricos podem levar a paralisia motora (perda de força), alteração da sensibilidade da pele e dor crônica.
A neurocirurgia dos nervos periféricos pode ser necessária quando ocorre compressão ou lesão traumática de um nervo. A cirurgia tem como objetivo recuperar a função das fibras nervosas.
Pequenos tumores também podem aparecer no sistema nervoso periférico, sendo necessário tratamento cirúrgico.
Hidrocefalia
O cérebro e a medula espinhal são protegidos por um líquido, o chamado líquido céfalo-raquidiano. Este líquido é produzido em cavidades do cérebro, chamadas de ventrículos. Por diversos motivos, o líquido céfalo-raquidiano pode se acumular nestas cavidades, causando aumento da pressão intracraniana. Esse fenômeno é chamado de hidrocefalia. Os principais sintomas são dor de cabeça, náuseas, vômitos, sonolência, visão dupla e desequilíbrio. Em bebês, a hidrocefalia pode se manifestar com irritabilidade, moleira abaulada, aumento anormal da cabeça e atraso do desenvolvimento. Nestes casos, o paciente deve ser avaliado por um neurocirurgião para diagnostico e tratamento. Muitas vezes, faz-se necessário o tratamento cirúrgico de urgência. Existem diferentes métodos de tratamento cirúrgico da hidrocefalia. Os mais comuns são as derivações ventriculares (válvulas de hidrocefalia) e o tratamento por cirurgia endoscópica.
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Dr Luciano Furlanetti, PhD, FEBNS
Especialista em Neurocirurgia
CRM-SP 121.022